domingo, 16 de novembro de 2014

O Idoso

Estou cada vez mais certa de que a terra gira. Não me refiro em termos físicos mas sim metafóricos. Onde estamos hoje pode já não ser real amanhã. O que dissemos ontem já não faz sentido nenhum no dia de hoje. O que afirmámos com a maior convicção no passado engolimos em seco no presente.

Todos os dias lido com idosos, idosos que já não moram nas suas casas, idosos que já não estão com a sua família todos os dias, idosos que estão longe da vida como a conheciam antes e idosos que  de certeza afirmaram nunca chegar ali. Em cada uma das suas rugas vou imaginando as suas histórias. Que pessoas foram? Que mágoas guardam? Que alegrias deram aos seus?
Alguns conseguem contá-las, as histórias, outros já nem sabem quem são nem de onde vieram. Àqueles a quem a doença roubou a capacidade intelectual e a memória noto um olhar vazio pelo qual pagava para saber onde já vai e trazê-lo de volta só para ouvir um bocadinho de si. "Era uma mulher tão bondosa" diz-me uma filha. Acredito. Continua a sê-lo ainda que não se reconheça mais. "Era um homem de negócios, forte e convicto" diz um irmão mais novo. Sei-lo bem. Continua teimoso ainda que agora o discurso seja confuso e incoerente.
Dou por mim a pensar que mais tarde ou mais cedo a vida leva-nos a isto e a velha máxima do "Quem não morre novo chega a velho" impõe-se. O velho é um corpo fraco com uma alma rica. Imagino o que fariam se a força lhe permitisse e se o cansaço não os vencesse. Quem seriam hoje se vivessem mais 100 anos com a força dos 20?

Se o novo soubesse e se o velho pudesse...



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